Os efeitos anti-inflamatórios da melatonina na obesidade: uma revisão da literatura

  • Caroline Prochnow Médica, Especialização em Nutrologia, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto-SP, Brasil.
  • Liane Gonçalves Borges Médica Nutróloga, Universidade Federal de Uberlândia, Complementação Especializada em Nutrologia na USP de Ribeirão Preto e Professora do Curso de Especialização Lato Sensu Nutrologia USP
  • Vivian Marques Miguel Suen Doutora em Medicina, Clínica Médica-FMRP/USP, Docente da FMRP, Coordenadora do Curso de Especialização em Nutrologia, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade
  • Heitor Bernardes Pereira Delfino Doutor em Medicina, Clínica Médica-FMRP/USP, Docente do Curso de Especialização em Nutrologia, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, Brasil.
Palavras-chave: Obesidade, Inflamação, Tecido adiposo, Melatonina, Estresse oxidativo

Resumo

Introdução: A obesidade é uma doença de etiologia multifatorial responsável por gerar um estado de inflamação crônica subclínica. A melatonina, hormônio produzido fisiologicamente pela glândula pineal, vem sendo amplamente estudada por seu efeito anti-inflamatório em diversas doenças. Objetivo: Analisar os efeitos anti-inflamatórios da suplementação de melatonina no tratamento da obesidade. Materiais e Métodos: Esta revisão narrativa foi realizada por meio de levantamento de literatura, utilizando as bases de dados digitais Pubmed, Scielo, Lilacs, Google Acadêmico e Periódicos da CAPES. Resultados:  Um estudo duplo cego randomizado, avaliou 44 mulheres com obesidade, que foram divididas de forma randomizada em um grupo que fez uso de melatonina (n=22) e em outro grupo que fez uso de placebo (n=22). Foi observado que apenas o grupo de pacientes que fez uso da melatonina apresentou redução significativa nas concentrações séricas de marcadores inflamatórios como TNF alfa, IL-6, hsCRP e MDA. Outro estudo duplo-cego randomizado, analisou 30 pacientes com obesidade que foram randomizados em 2 grupos, grupo 1 (n=15) recebeu 10 mg de melatonina e o grupo 2 (n=15) recebeu placebo. Com a suplementação de melatonina as concentrações de adiponectina omentina 1 e GPx (enzima antioxidante) aumentaram significativamente, enquanto os níveis de MDA (marcador de estresse oxidativo) diminuíram significativamente. Conclusão: Apesar dos estudos clínicos sobre este tema serem escassos e os existentes apresentarem um número amostral reduzido, os resultados até então demonstraram a eficácia da melatonina em contrabalancear os efeitos deletérios do excesso de tecido adiposo.

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Publicado
2022-11-17
Como Citar
Prochnow, C., Borges, L. G., Suen, V. M. M., & Delfino, H. B. P. (2022). Os efeitos anti-inflamatórios da melatonina na obesidade: uma revisão da literatura. RBONE - Revista Brasileira De Obesidade, Nutrição E Emagrecimento, 16(101), 409-418. Recuperado de https://www.rbone.com.br/index.php/rbone/article/view/2000
Seção
Artigos Científicos - Revisão